quarta-feira, 13 de maio de 2009

um: acto de fé


“ – Que me trazes aí, pequeno?
- É para o carneiro, pai.
- Qual carneiro?
....
Chaktour olhou o filho com espanto e piedade. Não disse nada. Nos seu espírito continuamente atormentado, já não havia lugar para uma nova dor. Sentia-se simplesmente esmagado pelo gesto do seu filho. Compreendia agora que nesta criança – da sua carne e do seu sangue – se estava a formar uma miséria consciente e real de que ainda não se tinha apercebido e que para sempre ficaria ligada à sua. O menino crescerá e a sua miséria irá crescer com ele até ao dia em que fraco por sua vez – pode um homem suportar sozinho a sua miséria? – criará um filho que partilhará o peso dela com ele. A única consolação do pobre é não deixar ao morrer um filho pródigo. A ignomínia que lega à descendência é inesgotável”.

Albert Cossery, Os homens esquecidos de deus

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