quarta-feira, 27 de maio de 2009

dois: fé dos actos


Frente a um sempre único Outro, descer a avenida até à praia e partir para um desconhecido. Fazer o mapa.
Saber claramente os sinais, o que é mar, terra, céu, rocha, deserto, glaciar, vulcão, perceber de que lado sopra o vento, qual a ordenação das constelações que nos orientarão nesse desenhar e apagar, desenhar e apagar de novo; os contornos, os relevos de cada mar, de cada bocado de terra mais ou menos fértil, isso terá que ser pensado e revelado a dois.
No encontro de dois que desejam conhecer, estabelecer mapas, perceber os fundos do fundo e marcar no céu cada novo planeta com os contornos do desejo que se vai desenhando.
Mesmo sabendo que o mapa traçado, vivido e sentido será sempre imperfeito, inacabado.
O paradoxo a tolerar parece-me este: tolerar a infinita complexidade de um Outro, das relações que estabelece consigo e com os outros, e tolerar os limites ao que pode ser conhecido, mas que se revela, sendo.
Perceber, descendo a avenida que nos leva à praia, que, mais do que a segurança do saber por outros feito, prevalece o desejo de um dia desembarcar numa nova praia, e perceber que mesmo assim, tudo está por pensar, e que o infinito e o incerto de nós mesmos e do Outro que se nos apresenta, será sempre o que vamos desejar.

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