Pensar em fé é pensar em algo que não pertence ao domínio da razão, em algo que nos transcende e a que podemos aceder apenas com a nossa intuição e com os nossos afectos. Algo que portanto nos apela menos a um discurso cientifico, e mais à religião e ao misticismo.
Mas ter fé é o mesmo que acreditar e aparentemente com este sinónimo já não ficamos tão comprometidos na nossa fala.
Acreditar ou não acreditar! Eis a questão!
Os gregos acreditavam nos Deuses. Cada Deus tinha as suas funções, era mais ou menos perfeito, e enredava-se com os seus pares em histórias/mitos que congregavam e organizavam os medos dos homens tornando-os menos ameaçadores. A morte, a sexualidade, o feminino, o conhecimento…
Depois, na sociedade ocidental um Deus único, omnipotente, omnipresente e omnisciente veio tranquilizar, apaziguar os mesmos medos.
Hoje, e sobretudo desde que, como afirmou Nietzsche “Deus está morto”, é o homem que está no centro da questão. Para o bem e para o mal…
Mais só perante as suas angústias, pode ainda acreditar, ter fé na ciência e no conhecimento, ou por outro lado, nos misticismos que curiosamente parecem tornar-se cada vez mais populares a despeito de uma maior racionalidade no mundo pós-moderno.
Parece estar também a agarrar-se cada vez mais a crenças em torno de estilos de vida saudável, e de promessas genéticas pouco realistas, como se pudesse iludir a morte. Mas não será também a Fé em Deus ou nos deuses ou nos misticismos isso mesmo, uma tentativa de ilusão da morte?
E o amor? A relação com o Outro?
Como mostra a história do homem que tentou fugir para Samarcanda e como nos diz Heidegger todos somos seres para a morte. Amaral Dias completa a ideia e diz-nos que é a relação com o outro que nos permite amortecer essa dor. Eu concordo. Por isso não deixa de ser preocupante ver que cada vez mais o homem se relaciona com coisas e menos com pessoas. Cada vez confia menos em pessoas e mais em coisas.
Mais só perante a morte, cada vez mais angustiado e sem relações que lhe contenham estável e duradouramente as angustias... Eis o homem pós-moderno.
Quanto mais decreta o fim da psicanálise mais a humanidade precisa dela e dos seus psicanalistas/psicoterapeutas. Mas é preciso que os psicanalistas eles próprios acreditem na existência da verdade da realidade psíquica, tendo Bion chamado Acto de fé a esta ideia.
É porque alguém cuidou de nós, nos alimentou, nos acalmou e não nos deixou cair, e porque a nossa mente conseguiu interiorizar esses cuidados e o seu significado de uma forma minimamente segura que podemos verdadeiramente acreditar/confiar no outro.
Não deixemos pois de ter Fé na Verdade, no Amor, na Gratidão. Trilhar com o Outro esse percurso. Talvez essa seja a missão mais nobre do psicoterapeuta/psicanalista.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
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A fé remove montanhas...
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