Falando da vida no resto do universo, e de formas de conseguir encontrá-la, um cientista, percebendo que as técnicas antes usadas se aproximavam sempre muito de procurar a vida como a conhecemos, pensou que a melhor forma para a encontrar seria procurar ordem nos elementos.
Imaginando “...um quilo de massa de letras. Imagina agora que as deitas numa panela. Ficariam todas misturadas. Este é o ponto de equilíbrio da entropia. Ou seja, o ponto de desordem máximo. Mas imagina que alguém forma palavras com as letras, ou separa todos os S por um lado e todos os M por outro. Se espreitares a panela e vires que as letras estão separadas e ordenadas, sabes com certeza que alguém o fez. Pois é isso que a vida faz. Ordena as letras essenciais do Universo, a vida é, então, ordem.”
Pegando neste excerto de um livro de Rosa Montero, pensamos na desordem, no sem sentido, e na inevitável urgência constante de ordem para que a vida, também a interna possa surgir. Mesmo sabendo da alternância que dá o respirar aos modelos de pensamento.
Não é no entanto disto que falamos quando falamos em trauma. O excesso de sem sentido, de desordem, que atinge o sujeito, impossibilitando-o de pensar, de transformar o impacto de algo que é demais.
O excesso de sem sentido, de desordem, elementos desorganizados sem uma matriz, uma trama, um contexto interno, um enredo que os possa acolher e transformar. Este excesso de sem sentido, pode ser causa de estagnação na alternância essencial ordem/desordem, impedindo o funcionamento simbólico produtor de crescimento. Como se o mundo interno, excessivamente atingido se desorganizasse, fazendo com que as palavras se soltassem dos elos de ligação, perdendo a mente a trama, o enredo, o contexto que dá sentido. Na desordem de letras, de elementos de pensamento, devido a um excesso que o sujeito não se vê capaz de conter e elaborar, perdem-se as tramas, os enredos, que possibilitariam a contenção da experiência, esperando em local seguro pela transformação.
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