“As crianças doentes da alma desistem de olhar”, afirmou Teresa Ferreira no livro ”Em defesa da criança”, que reúne os seus textos. Gostava de citar o que a autora considerava serem os quatro direitos de um bebé que vai nascer:
"1- Direito a ser desejado por ambos os pais
2- Direito a uma mãe disponível
3- Direito a um pai presente
4- Direito a um espaço (quarto de criança na casa de habitação)"
A concretização destes quatro direitos significa que os pais são adultos desejantes, o bebé experimenta repetidamente no tempo uma relação gratificante/securizante com a mãe, o pai aparece como um terceiro elemento de realidade que permite a evolução da relação simbiótica mãe-bebé, abrindo-a para o exterior, e o bebé tem um espaço seu que lhe permite a separação e a construção dos limites da sua interioridade.
Partindo deste principio, poderemos prever que:
- se os direitos forem assegurados, o olhar da criança será curioso e confiante, porque se estabelecerá um equilíbrio de base, organizando-se a capacidade de pensar e fantasiar. A criança poderá fazer face às frustrações, porque terá à disposição recursos internos criativos que lhe permitirão lidar com a realidade externa boa ou má e adaptar-se; e
- se os direitos não forem assegurados, o bebé crescerá inseguro e o risco de desmoronamento perante as crises será elevado. Não existindo recursos suficientes na mente para lidar com a crise e ultrapassá-la de forma maturativa, esta poderá ser vivida como traumatizante. O olhar tenderá a esvaziar-se de afecto e sentido.
Mais tarde, perante o sofrimento persistente, a procura de ajuda terapêutica surgirá como uma possibilidade de reconstrução. Tal como já referido num post anterior, neste processo psico-terapêutico é essencial a fé de que no par (terapeuta/paciente) se poderá compreender o que se está a passar com o paciente. Enquanto o paciente se sente desesperançado, desvitalizado, desconfiado, o terapeuta deverá manter a esperança de que será possível fazer ligações entre afectos e pensamentos e tecer uma "trama" segura entre o Eu e o Outro.
Deixo-vos com uma curta-metragem que apela para a capacidade de olhar e nos deixarmos tocar emocionalmente pelo Outro.
domingo, 31 de maio de 2009
“As crianças doentes da alma desistem de olhar”
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