domingo, 31 de maio de 2009

“As crianças doentes da alma desistem de olhar”

“As crianças doentes da alma desistem de olhar”, afirmou Teresa Ferreira no livro ”Em defesa da criança”, que reúne os seus textos. Gostava de citar o que a autora considerava serem os quatro direitos de um bebé que vai nascer:
"1- Direito a ser desejado por ambos os pais
2- Direito a uma mãe disponível
3- Direito a um pai presente
4- Direito a um espaço (quarto de criança na casa de habitação)"
A concretização destes quatro direitos significa que os pais são adultos desejantes, o bebé experimenta repetidamente no tempo uma relação gratificante/securizante com a mãe, o pai aparece como um terceiro elemento de realidade que permite a evolução da relação simbiótica mãe-bebé, abrindo-a para o exterior, e o bebé tem um espaço seu que lhe permite a separação e a construção dos limites da sua interioridade.

Partindo deste principio, poderemos prever que:
- se os direitos forem assegurados, o olhar da criança será curioso e confiante, porque se estabelecerá um equilíbrio de base, organizando-se a capacidade de pensar e fantasiar. A criança poderá fazer face às frustrações, porque terá à disposição recursos internos criativos que lhe permitirão lidar com a realidade externa boa ou má e adaptar-se; e
- se os direitos não forem assegurados, o bebé crescerá inseguro e o risco de desmoronamento perante as crises será elevado. Não existindo recursos suficientes na mente para lidar com a crise e ultrapassá-la de forma maturativa, esta poderá ser vivida como traumatizante. O olhar tenderá a esvaziar-se de afecto e sentido.

Mais tarde, perante o sofrimento persistente, a procura de ajuda terapêutica surgirá como uma possibilidade de reconstrução. Tal como já referido num post anterior, neste processo psico-terapêutico é essencial a fé de que no par (terapeuta/paciente) se poderá compreender o que se está a passar com o paciente. Enquanto o paciente se sente desesperançado, desvitalizado, desconfiado, o terapeuta deverá manter a esperança de que será possível fazer ligações entre afectos e pensamentos e tecer uma "trama" segura entre o Eu e o Outro.

Deixo-vos com uma curta-metragem que apela para a capacidade de olhar e nos deixarmos tocar emocionalmente pelo Outro.

Sem comentários:

Enviar um comentário