terça-feira, 30 de junho de 2009

O Tempo adolescente e o Fora/Dentro


Neste tema tão englobante que é o tempo e o dentro pensei em várias questões com as quais nos deparamos na nossa prática clínica; o tempo da relação, o não tempo para pensar, o dentro das questões mais reconditas, o fora e o dentro na relação terapeutica...

Um dia, num seminário que assisti em Espanha, o Juíz de Menores de Madrid, a propósito da violência entre adolescentes e nos adolescentes, proferiu uma frase que me levou a escrever hoje sobre o tempo e o dentro e fora da vida de um adolescente.

Não consigo recordar literalmente aquilo que disse mas foi qualquer coisa como: O tempo que um adulto reclama para punir um adolescente não se pode igualar ao tempo real que o adolescente vive...

Isto fez-me pensar sobre a adolescência e os seus tempos e dentros:

Fora da Infância... Fora da fase Adulta
Dentro da Adolescência
Que Tempo é este?
É o Tempo do tudo e do nada?
O não Tempo?
O Tempo em demasia?
Estão Fora?
Estão Dentro?

A adolescência tem um pouco de tudo isto, é uma fase, mas uma fase que precisa de ser compreendida como um lugar onde há um sujeito com especificidades e que precisa de um espaço onde se possa exercitar

Françoise Dolto a propósito da adolescência faz uma analogia com os lagostins:"Para melhor compreendermos o que é a privação, a fragilidade do adolescente, tomemos o exemplo dos lagostins e das lagostas quando perdem a sua carapaça: nesta época elas escondem-se sob os rochedos o tempo suficiente para readquirir as suas defesas."

domingo, 28 de junho de 2009

Corpo de(s)graça


É inquestionável o quanto somos influênciados pelos modelos que nos assediam a cada instante. Sendo corpo e mente uma instância una, o corpo é o espelho da nossa mente... do quão sã ou em sofrimento se encontra. E como dizia esse sr. (que parece ter precedido o seu tempo), o corpo é que paga. (Bem estar é ir para a praia pelo mergulho e não pelo bikini)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

corpo de sentido


templos feitos com dentro de tempo.
tempo de relação, tempo de estar dentro e nos tempos de outro.
ser corpo com graça com dentro de tempo que faz nós.
nós que não se desatam, que existem num templo que é dentro
e tudo faz sentido.
ser corpo, ter corpo, e dentro e tempo,
e tempo e dentro, ter corpo, ser corpo.
desejo, sonho, graça.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O(s) Tempo(s) e o dentro



Como todos bem sabemos e sentimos o tempo de fora não é igual ao tempo que existe dentro de nós. Mas mais do que não ser igual obedece a lógicas radicalmente diferentes.

O tempo de fora é o tempo cronológico, racional, organizador da nossa consciência e da vida em sociedade, onde passado, presente e futuro formam uma sequência unidireccional e unívoca.

Em contrapartida o tempo de dentro é o tempo do inconsciente, onde não há sequência alguma, obedecendo a uma lógica a que Matte Blanco chamou de simétrica, pois nela o passado é igual ao futuro, o grande é igual ao pequeno, o cheio igual ao vazio.

Não deixa de ser curioso observar que quanto maior for o distúrbio psicológico apresentado mais este tempo de dentro se vai sobrepor ao tempo de fora, com prejuízo da adaptação ao mundo exterior. É frequente por exemplo um esquizofrénico não saber em que ano está, pois vive mais virado para as sensações oriundas do seu mundo interno do que para o mundo externo. Ou ver um melancólico desesperadamente agarrado ao passado, ou um hipomaniaco em continua fuga para a frente, sem conseguir sequer viver o presente.

É também a evocação do tempo de dentro que faz a histérica confundir afectivamente o pai com o marido e/ou com o filho. E o obsessivo tentar isolar e/ou anular magicamente actos e pensamentos.

Mas se o tempo de dentro nos convoca continuamente a nossa capacidade de pensar, no sentido de reconhecer, nomear, descodificar e entender a amálgama de sensações e afectos que emergem dentro de nós, é o tempo de fora presente no olhar do(s) outro(s) que nos mostra o que fomos, o que somos e o que poderemos ser, no fundo, que é a passagem do tempo que, ao testemunhar a continuidade da nossa existência e do essencial dos nossos afectos e pensamentos, nos permite afirmar a nossa identidade no mundo.


terça-feira, 23 de junho de 2009

O corpo de(s)graça


O eu é primeira e acima de tudo um eu corporal, disse sabiamente Freud, querendo afirmar que é do corpo e das suas percepções e sensações que emerge o eu do indivíduo, o qual se vai tornando, ao longo do desenvolvimento, progressivamente mais simbólico.
Quando existem falhas neste processo o eu em vez de consistente e coeso revela-se poroso, como se a pele psíquica se apresentasse com buracos que deixam passar partes do sujeito que se vão depois misturar com partes do objecto gerando movimentos de projeccção e de identificação projectiva patológica onde o individuo se perde e se confunde pois não pode vivenciar-se como separado do outro.
Nestes movimentos caracterizados pelas dificuldades ao nível do simbólico o corpo é vivido na sua concretude, quase sem metáfora, sendo neste registo que enquadramos várias patologias onde o corpo surge agredido, maltratado, como sejam as auto-mutilações, as anorexias/bulimias, algumas doenças psicossomáticas, as toxicodependências, a prostituição, tantas são as formas de vivenciar no corpo as dores da alma.
O corpo é então um continente da raiva e ódio experimentados contra si pela impossibilidade/insuportabilidade de os voltar para fora, para o exterior, eventualmente para o agente agressor, tantas vezes pai ou mãe.
(…) Lembro-me de a ver entrar, meias pretas de rede rotas deixando ver as marcas de agulha das seringas que espetava e a boca suja de chocolate do bolo que tinha entre os dedos. Abusada antes pelo pai dava-se agora ao abuso dos outros, viciadamente, estes podia ela controlar (…)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O corpo e a alma


"A deformidade do corpo não afeia uma bela alma, mas a formosura da alma reflecte-se no corpo."

Séneca, filósofo (4 a.C - 65 d.C)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Os Tempos e o Dentro...



Sou uma memória?

Um tempo de espera?

Uma espera no tempo?

Vários tempos... e o meu dentro, que tempo tem para mim?

Tempo e eu unos? Eu é tempo... feito de antes, de agoras de depois...

Amanhã continuarei a ser o que fui... o que sou?

Dentro de mim há um tempo... tempos... de antes, de agora de depois...

domingo, 14 de junho de 2009

Quando a cabeça não tem juízo o corpo fica uma desgraça!



Quando a cabeça não tem juízo o corpo fica uma desgraça!

Este podia ser o título do clip abaixo exibido!
Podia deambular acerca dos vários significados que determinados desportos radicais tem nas vidas de quem os pratica… mas se ouvirem a letra e pensarem sobre ela terão melhores resultados que lendo as minhas palavras…


Quando a cabeçaÂ….
Quando a cabeça não tem juízo
Quando te esforças mais do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deixa´ó pagar deixa´ó pagar
Se tu estás a gostar
Quando a cabeça não se liberta
Das frustaçoes inibiçoes toda essa força
Que te aperta o corpo é que sofreAs privaçoes mutilaçoes
Quando a cabeça está convencida
De que ela é a oitava maravilha
O corpo é que sofre
O corpo é que sofre
Deixa´ó sofrer deixa´ó sofre
Se isso te dá prazer

Quando a cabeça está nessa confusão
Já sem saber que hás-de fazer, e já és tudo o que te vem à mão
O corpo é que fica
Fica a cair sem resistir


Quando a cabeça rola pro abismo
Tu não controlas esse nervosismo
A unha é que paga
A unha é que paga
Não paras de roer
Nem que esteja a doer

Quando a cabeça não tem juízo
E tu não sabes mais do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deixa´ó pagar deixa´ó pagar
Se tu estás a gostar
Deixa´ó sofrer deixa´ó sofrer
Se isso te dá prazer
Deixa´ó cantar deixa´ó cantar
Se tu estás a gostar
Deixa´ó beijar deixa´ó beijar
Se tu estás a gostar
Deixa´ó gritar deixa´ó gritar
Se tu estás a libertar

Muito á frente não?




terça-feira, 9 de junho de 2009

O ANALISTA-CIDADÃO

Proponho que matutemos sobre a seguinte citação de Carlos Amaral Dias e a conjuguemos com a propsta que fiz anteriormente (no blog interno) de pensarmos a questão da neutralidade na actualidade:

"...Trata-se de uma forma de Psicanálise aplicada, mas que sustenta o acto analítico para além do trabalho individual. Aí, o analista é responsável pela presença do discurso analítico no laço social.

Proponho, aliás, o termo analista-cidadão para designar o psicanalista que responde à chamada que lhe é feita, pronunciando-se activamente sobre os acontecimentos do seu tempo ou nas instituições onde trabalha. O analista-cidadão terá de ser, sem dúvida, um analista sensível às formas de segregação contemporâneas e entender qual a função que agora lhe corresponde."

Para ler na íntegra, ir a :

http://www.pnethomem.pt/cronica.asp?id=1038

segunda-feira, 8 de junho de 2009


Ainda sobre o Trauma…


Na minha opinião, a noção de Trauma psíquico está intimamente ligada à própria génese da ciência psicanalítica pois, como sabemos, uma das primeiras conclusões de Freud no seu estudo das conversões histéricas foi que a causa dos sintomas seria o Trauma infantil.
Em terapia podemos observar/inferir que nas bases etiológicas das neuroses e psicoses estão sinais de experiências traumáticas infantis vividas num momento em que é impossível para a mente da criança integrar as emoções e significações dessas mesmas experiências. Serão estas experiências, que deixam uma ferida (psíquica) mal cicatrizada (o termo trauma de origem grega significa ferida), a “fonte” de angústias, ansiedades, sintomas, etc.
O trabalho psicanalítico, através da interpretação servirá, então, para abrir um caminho para que a experiência traumática infantil seja abordada de uma forma reintegrativa, elaborada e controlada através da linguagem. Deste modo o Trauma pode deixar de ser uma fonte de sintomas e as angústias e ansiedades inexplicáveis podem tornar-se um registo simbólico do passado.

PS: Uma empresa farmacêutica multinacional que está a tentar encontrar uma terapêutica para o stress pós traumático de guerra anunciou que está prestes a terminar o desenvolvimento de um medicamento que apaga a memória de acontecimentos traumáticos.

Será este o caminho certo? Eu, num registo um pouco pessimista e paranóico, não consigo deixar de me assustar com o rumo que estas coisas podem tomar…

domingo, 7 de junho de 2009

A ABORDAGEM ANALÍTICA DA OBESIDADE

O inconsciente tem implicações no corpo e na formação do discurso deste. O tipo de vinculação subjectiva que o sujeito apresenta em relação ao seu corpo tem pode ter uma acentuada influência sobre as condutas alimentares deste.
A psicanálise marca a distinção entre o corpo como organismo biológico e o corpo designado pela linguagem. A experiência do sujeito em relação ao seu corpo dá-se pela via do significante que é responsável pela organização da relação do sujeito com a imagem do seu próprio corpo e a partir daí, as relações com as imagens dos outros indivíduos e dos objectos da realidade. Pelas as razões expostas, é de extrema importância ouvir como o paciente nos fala do seu corpo, qual a possível relação que a obesidade mantém com a sua história de vida, as implicações para esta e o que esse paciente pretende para além da perda de peso, tendo em conta que significantes como ganho e perda possuem referências diferentes para cada indivíduo.
Ao utilizar a psicanálise como ponto de referência da psicoterapia para intervir na obesidade está-se a tratar o corpo não como um organismo mas como algo que fala e obtém prazer, um corpo governado por uma entidade psíquica. Isto significa que não se lida com a dimensão do facto, ou seja com a obesidade (o corpo obeso) mas com a relação do sujeito com o seu corpo e as consequências desta para a vida. São usados métodos psicológicos como a confrontação, clarificação e interpretação. A capacidade de introspecção por parte do paciente assim como empatia por parte do psicoterapeuta e o recurso a noções Freudianas como a transferência e a contratransferência são fundamentais. É de extrema importância analisar a possível existência de conflitos emocionais, problemas sociais, distúrbios nas relações de objecto, problemas separação/individuação especificamente no estádio do objecto transicional (noção introduzida por Winnicott) resultando por conseguinte numa fixação narcísica no seu próprio corpo à custa da utilização de objectos externos, nomeadamente os alimentos. Por tudo o que foi exposto facilmente se conclui que os objectivos das psicoterapias psicanalíticas ou de abordagem analítica ou de orientação dinâmica não se resumem a provocar mudanças no corpo do paciente mas sim a mudar a relação do sujeito com o seu corpo, a criar as condições necessárias para que o sujeito se depare com aquilo que lhe é estranho e ao mesmo tempo familiar, o corpo que” habita”.

sábado, 6 de junho de 2009

O corpo de (s) graça da MULHER

Vénus of Willendorf


"Não importa o quanto pesa. É fascinante tocar, abraçar e acariciar o corpo de uma mulher. Saber seu peso não nos proporciona nenhuma emoção.

(…)

As jovens são lindas... mas as de 40 para cima, são verdadeiros pratos fortes. Por tantas delas somos capazes de atravessar o atlântico a nado. O corpo muda... cresce. Não podem pensar, sem ficarem psicóticas que podem entrar no mesmo vestido que usavam aos 18. Entretanto uma mulher de 45, na qual entre na roupa que usou aos 18 anos, ou tem problemas de desenvolvimento ou está-se a auto-destruir.
Nós gostamos das mulheres que sabem conduzir sua vida com equilíbrio e sabem controlar sua natural tendência a culpas. Ou seja, aquela que quando tem que comer, come com vontade (a dieta virá em Setembro, não antes); quando tem que fazer dieta, faz dieta com vontade (sem sabotagem e sem sofrer); quando tem que ter intimidade com o parceiro,tem com vontade; quando tem que comprar algo que goste, compra; quandotem que economizar, economiza.
Algumas linhas no rosto, algumas cicatrizes no ventre, algumas marcas de estrias não lhes tira a beleza. São feridas de guerra, testemunhas de que fizeram algo em suas vidas, não tiveram anos 'em formol' nem em spa’s... viveram!
O corpo da mulher é a prova de que Deus existe. É o sagrado recinto da gestação de todos os homens, onde foram alimentados, ninhados e nós, sem querer, as enchemos de estrias e demais coisas que tiveram que acontecer para estarmosvivos.
A beleza é tudo isto".
Paulo Coelho

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Corpo (Des)graçado




Corpo com graça, corpo sem graça. Corpo com alma, corpo sem alma.

Corpo com graça e com alma não corresponde necessariamente ao corpo estético, ao corpo belo. Afinal quantos corpos belos são desgraçados! Pensemos nos corpos anorécticos, bulímicos, mutilados, outros doentes pelo resultado de somatizações graves. Um corpo com graça e com alma é belo pela vitalidade que brota, que inspira carga simbólica e diria até genitalidade.

Talvez, por estas associações expostas, iria cometer o acto falhado ao escrever o título corpo (des)carnado em vez de (des)graçado, o primeiro título a ser pensado e como tal acima enunciado. É que um corpo sem graça e sem alma, sem carga simbólica e genital é afinal um corpo descarnado, um corpo sem a carne anímica e palpável, um corpo alibidinal.

O corpo tem uma linguagem e expressão própria, pensemos no corpo em movimento num bailado, numa outra dança contemporânea ou ainda ritualizada, mas estas expressões com a tal carga simbólica que nos invade e faz-nos pensar, elaborar com nossa mente (muitas vezes vista como separada do resto do corpo) e sentir as mais variadas sensações (e emoções) com nosso corpo corporal, chamemos assim. Será que quanto mais alma e graça nosso corpo possui, mais emoções e sensações sente? Parece que sim. E parece que mais padece quanto menos emoções é capaz de sentir e mais desgraçado quanto mais dor sofre.

O corpo desgraçado aparece na ausência da graça metafórica, sendo que ainda aparece de graça a crueldade do descarnado sofrido e por vezes imentalizável que “ quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga”, como cantava Variações. Há quem faça fugas para a frente com o corpo, há quem o ofereça e maltrate de graça, há quem o venda na desgraça, mas porém há quem o pense e o transforme e quando o corpo tem juízo, a cabeça também o pode pagar, deixa a pagar, deixa a pagar (cantando doutra forma) !!!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Apenas isto...


Uma vez, uma grande amiga disse-me que a amizade era uma questão de fé... se a questionassem sobre o porquê de gostar de determinada pessoa, sobre o porquê dessa amizade ela responderia apenas isto:"Porque tenho fé!".


Apenas isto...

VIVER NO ESTRANGEIRO AUMENTA A CRIATIVIDADE?

Parece que sim, de acordo com um estudo que envolveu centenas de estudantes e que foi publicado no Journal of Personality and Social Psychology.
O estudo vem referido no Ecomomist (uma excelente revista, aliás) e refere a correlação entre viver, ou ter vivido, no estrangeiro e a criatividade das pessoas e as suas competências relacionais. Parece, no entanto, que viajar não chega. É preciso viver mesmo fora. O estudo não envolveu estudantes portugueses, para quem suspeito que a correlação seria ainda maior. Este santa terrinha nunca foi chão que desse muitas uvas. É tudo muito tacanho e pequenino.
Interessante, não?