"Embora saibamos que depois de uma perda dessas o estado agudo do luto abrandará, sabemos também que continuaremos inconsoláveis e não encontraremos nunca um substituto. Não importa o que venha preencher a lacuna e, mesmo que esta seja totalmente preenchida, ainda assim alguma coisa permanecerá. É a única maneira de perpetuar aquele amor que não desejamos abandonar."
Freud
Inicia assim o livro de José Eduardo Rebelo - Desatar o nó do luto. Este autor fala sobre a perda de entes queridos e dos processos inerentes ao luto. Enfatiza a questão dos laços afectivos como essenciais para a nossa vida emocional e debruça-se essencialmente no que acontece quando estes são quebrados de forma inesperada. Ora aqui a questão da crise e do trauma assume um papel preponderante, mas mais preponderante ainda é a questão do aparelho psíquico para pensar os pensamentos, pois tal como referiu Bion (vide post Ana Almeida) o trauma e a sua gravidade dependem da (in)capacidade para fazer face às exigencias impostas; neste caso para fazer o luto e ultrapassá-lo.
O conceito de luto "fazer o luto" aplica-se a várias situações da nossa vida, querendo dizer que é a necessidade do indivíduo em viver uma crise, em viver sentimentos confusos, contraditórios, que oscilam entre apatia, decepção, raiva... para posteriormente ultrapassá-la, e isto depende inevitavelmente das condicionantes internas de cada um.
Tal como nos diz José Eduardo Rebelo "Todo o processo que medeia entre a perda e a reabilitação para a vida exige um período de demora: é o tempo do luto. Este terá que ser percorrido até que a realidade predomine, até que aceitemos que todos os vínculos que estabelecemos com alguém, tão querido, só podiam ser usufruidos na sua presença....Só assim recuperaremos a paz de espírito, uma tranquilidade íntima, indispensável para prosseguir a vida na sua plenitude."
Este seguir a vida na sua plenitude refere-se ao viver, mas ultrapassar a crise e não se deixar absorver pela dor e tristeza conduzindo a um trauma psíquico.
Sem comentários:
Enviar um comentário