sábado, 25 de julho de 2009

MÃE, CONTA-ME UMA HISTÓRIA




ola Eliana


esse livro do Bruno Bettelheim foi-me utilíssimo quando a minha filha era pequena. Não que lho lesse, claro (:)), mas ajudou-me a perceber o simbolismo por detrás dos contos e lendas, às vezes assustadores, que se vão narrando às crianças (espero eu que ainda haja quem o faça).


Esses contos tinham uma função essencial que era a dos medos, terrores e fantasias poderem ser vivenciados na presença contentora da mãe (ou doutra figura parental). Uma espécie de faz- de-conta que me parece essencial no crescimento da criança. Até o complexo de Édipo está lá, como Bettelheim nos explica.


Vejo por aí à venda uma literatura infantil asséptica que não indicia nada de bom e que me parece que não permite à criança vivenciar experiências estruturadoras da sua identidade. Mas pode ser que esteja a ser pessimista, não sou especialista... Em contrapartida, e embora nada me mova contra a televisão ou outras tecnologias, consta-me que há desenhos animados assustadores e muito violentos, especialmente na ausência de alguem que explique e sossegue.


A minha filha tinha os seus contos preferidos, que nem sempre coincidiam com os meus (isto é, de quando eu era criança). Eu sempre adorei a história do capuchinho vermelho (carregadinha de simbolismo - quem pode ficar indiferente perante aquele lobo mau disfarçado da avózinha) mas supeito que ela preferia a história da Goldilocks (Caracolinhos loiros, numa das versões portuguesas), em que a miúda entra em casa da família dos ursos (pai, mãe e filho) na ausência destes. O conto tinha obrigatoriamente de ser narrado imitando as vozes do pai, da mãe e do filho ursinho. E da menina, que no fim foje por uma janela, depois de ser deitado (!) na cama de cada ums das personagens, sentado nas suas cadeiras e comido das suas tijelas.


Ah, a curiosidade infantil... O Freud chamava-lhe instinto escopofílico. É conveniente que a criança possa exercitá-lo e orientá-lo para a criatividade.

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