A Revolução Cognitiva deu-se nos anos 70! Foi a época do estudo das funções cerebrais que permitiu compreender melhor o funcionamento do nosso enigmático cérebro. A partir dos anos 90 partiu-se para novas "aventuras": mapear no cérebro as emoções ou mesmo a consciência. Estava assim refutada a ideia de que corpo e mente seriam entidades separadas. Situando a mente no cérebro, sendo o cérebro corpo, então chegou-se a corpo e mente unos. Parece ter sido este o momento do casamento (feliz) entre psicoterapia e neurociências, ou o momento em que o divulgaram.
Se a psicoterapia envolve alterações emocionais, cognitivas e comportamentais, tais alterações têm expressão cerebral. Quando em psicoterapia cognitiva se substituem pensamentos automáticos irracionais por pensamentos racionais, criando alterações emocionais, ocorreu uma nova aprendizagem. Esta nova aprendizagem deve-se à criação de uma nova rede neuronal ou alteração de uma já existente, o que tem uma expressão cerebral que pode ser observada utilizando técnicas de imagiologia refinadas como o PET scan, quando ocorrem em maior escala
Ora o casamento, embora demore a ser reconhecido, é efectivo. Assim, o desafio que parece agora ter de se superar é o desenvovimento do seu "filho". Surgem já algumas investigações que, através do estudo neuropsicológico e utilizando técnicas de imagiologia, verificam as activações cerebrais e alterações que ocorrem ao longo da psicoterapia. Se a Psicoterapia e a Neuropsicologia (ou Neurociências) continuarem o trabalho conjunto poderemos chegar ao momento em que, partindo de uma avaliação neuropsicológica, possamos planear uma intervenção psicoterapêutica tendo presentes os efeitos que o objectivo psicoterapeutico terá dentro de nós, ou seja no nosso cérebro. Será um trabalho bidireccional! Não significa que se torne a psicoterapia muito técnicista mas sim que se compreendam melhor os seus efeitos, tornando-a ainda mais eficaz.
Que o fim desta história seja "e viveram felizes para sempre...".
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Histórias de vida
Este mês lançou-se um tema sobre a importância das histórias, dos contos e da narrativa na estruturação do psiquismo. Falou-se sobretudo nas crianças e nos contos de fadas, mas poder-se-ia ter falado das fábulas, das lendas e também dos mitos que desempenham igual importância não só na infância mas ao longo de toda a vida.
As histórias, reais ou ficcionadas só têm sentido se forem interpretadas à luz do mundo simbólico que constitui a cultura humana e não é novidade para ninguém que a condição humana é o reflexo da cultura e da história, para além dos recursos físicos e psicológicos.
Quem nunca leu uma biografia? Habitualmente estão repletas de factores históricos e culturais. E o método biográfico ocorre tanto na literatura como nas ciências sociais. As histórias de vida (expressão mais comum para designar o método biográfico nas ciências sociais) são utilizadas para estudar os estágios de desenvolvimento e as transições que ocorrem ao longo de uma vida. Para além da investigação este método pode também ser utilizado com uma intencionalidade terapêutica. A utilização metodológica das histórias de vida permite a transformação do sujeito empírico em sujeito analítico e revela a necessidade de demonstrar a forma como o sujeito analisa e atribui sentido ao seu quotidiano e às decisões que toma.
Para Bruner (1990)* a principal tarefa do eu é mesmo a construção de uma história de vida (construção longitudinal do eu) ajustada às circunstâncias actuais do sujeito no sentido de uma coerência e adaptação externa e interna, desenvolvendo um sentido de identidade e continuidade.
* Bruner, J. (1990). Actos de significado. Lisboa: Edições 70.
As histórias, reais ou ficcionadas só têm sentido se forem interpretadas à luz do mundo simbólico que constitui a cultura humana e não é novidade para ninguém que a condição humana é o reflexo da cultura e da história, para além dos recursos físicos e psicológicos.
Quem nunca leu uma biografia? Habitualmente estão repletas de factores históricos e culturais. E o método biográfico ocorre tanto na literatura como nas ciências sociais. As histórias de vida (expressão mais comum para designar o método biográfico nas ciências sociais) são utilizadas para estudar os estágios de desenvolvimento e as transições que ocorrem ao longo de uma vida. Para além da investigação este método pode também ser utilizado com uma intencionalidade terapêutica. A utilização metodológica das histórias de vida permite a transformação do sujeito empírico em sujeito analítico e revela a necessidade de demonstrar a forma como o sujeito analisa e atribui sentido ao seu quotidiano e às decisões que toma.
Para Bruner (1990)* a principal tarefa do eu é mesmo a construção de uma história de vida (construção longitudinal do eu) ajustada às circunstâncias actuais do sujeito no sentido de uma coerência e adaptação externa e interna, desenvolvendo um sentido de identidade e continuidade.
* Bruner, J. (1990). Actos de significado. Lisboa: Edições 70.
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histórias de vida,
método narrativo
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
A Morte do Pato Donald - (Avô, conta-me uma história!)
A propósito deste tema lembrei-me de um artigo que li há algum tempo na revista Pública do Expresso do Dr. Daniel Sampaio. O artigo iniciava com uma pequena resenha a outro artigo "Os 25 mitos da Pediatria" no qual também se podia ler algumas inovações para pais e professores, mas Daniel Sampaio quis acrescentar a profunda mudança ocorrida nestes últimos anos e intitula o seu artigo como: A MORTE DO PATO DONALD
Depois de alguma procura consegui encontrar o artigo e transcrevo aqui alguns items que me parecem fulcrais para o assunto em questão.
"O quotidiano da criança mudou. Hoje vão cedo para a creche e não brincam na rua, o peluche caiu em desuso e o Pato Donald morreu. Um menino dos nossos dias que aprendeu a ler não se entretém com uma revista de quadradinhos do Tio Patinhas, como acontecia com os seus pais, até porque só com dificuldade a encontrará nas bancas. Mickey e Minnie, Donald e Margarida, Pateta e Clarabela são "casais" do passado, seres assexuados que só tinham sobrinhos (quem seriam os pais) e se entretinham com estórias que hoje nos parecem inverosímeis. O mundo de hoje é outro: telemóvel e computador, Game-Boy e Play-Station são utilizados com grande à-vontade por crianças pequenas...Tudo está diferente...Morreu o Pato Donald, viva o Pokémon!
A verdade é que nunca, como agora, se tornou tão importante o papel dos adultos junto dos mais novos: com tanta informação rápida, com as imagens a entrarem nas nossas casas deixando dúvidas sobre o que é real e virtual, com o mundo tão imprevisível e por vezes perigoso, apalavra dos familiares é cada vez mais relevante. Pela simples razão que é única e insubstituível: jamais um jogo eléctrónico ou uma pesquisa na internet substituirá a afectividade da narrativa do avô ou a palavra afectuosa de um pai...As crianças precisam de estimular a imaginação e de encontrar segurança na sua relação com os adultos mais importantes, os seus familiares. As famílias já não são três gerações à volta de uma lareira, mas continuam a ser o espaço emocional mais importante para os mais novos."
Ora na relação que se estabelece entre criança-adulto-livro aparecem laços afectivos muito fortes e a cumplicidade da leitura permite-nos viver a experiência de compartilhar os sentimentos e as emoções que os livros nos proporcionam.
A emoção age principalmente na segurança das crianças, base de todo o desenvolvimento e é preciso dar e criar oportunidades para a expressão das emoções e sentimentos, para que a criança os reconheça e elabora, ora os livros, as narrativas, proporcionam tudo isto, já que são poderosos clarificadores de significados, permitem organizar o real e conceitos como bem/mal; bonito/feio; justo/injusto.
Plãtão refere que o valor educativo das histórias exerce um fascínio sobre a mente das crianças e Betelheim afirma que estas têm uma forte influência e reconstroem as dimensões mais profundas do sentir e do pensar.
Depois de alguma procura consegui encontrar o artigo e transcrevo aqui alguns items que me parecem fulcrais para o assunto em questão.
"O quotidiano da criança mudou. Hoje vão cedo para a creche e não brincam na rua, o peluche caiu em desuso e o Pato Donald morreu. Um menino dos nossos dias que aprendeu a ler não se entretém com uma revista de quadradinhos do Tio Patinhas, como acontecia com os seus pais, até porque só com dificuldade a encontrará nas bancas. Mickey e Minnie, Donald e Margarida, Pateta e Clarabela são "casais" do passado, seres assexuados que só tinham sobrinhos (quem seriam os pais) e se entretinham com estórias que hoje nos parecem inverosímeis. O mundo de hoje é outro: telemóvel e computador, Game-Boy e Play-Station são utilizados com grande à-vontade por crianças pequenas...Tudo está diferente...Morreu o Pato Donald, viva o Pokémon!
A verdade é que nunca, como agora, se tornou tão importante o papel dos adultos junto dos mais novos: com tanta informação rápida, com as imagens a entrarem nas nossas casas deixando dúvidas sobre o que é real e virtual, com o mundo tão imprevisível e por vezes perigoso, apalavra dos familiares é cada vez mais relevante. Pela simples razão que é única e insubstituível: jamais um jogo eléctrónico ou uma pesquisa na internet substituirá a afectividade da narrativa do avô ou a palavra afectuosa de um pai...As crianças precisam de estimular a imaginação e de encontrar segurança na sua relação com os adultos mais importantes, os seus familiares. As famílias já não são três gerações à volta de uma lareira, mas continuam a ser o espaço emocional mais importante para os mais novos."
Ora na relação que se estabelece entre criança-adulto-livro aparecem laços afectivos muito fortes e a cumplicidade da leitura permite-nos viver a experiência de compartilhar os sentimentos e as emoções que os livros nos proporcionam.
A emoção age principalmente na segurança das crianças, base de todo o desenvolvimento e é preciso dar e criar oportunidades para a expressão das emoções e sentimentos, para que a criança os reconheça e elabora, ora os livros, as narrativas, proporcionam tudo isto, já que são poderosos clarificadores de significados, permitem organizar o real e conceitos como bem/mal; bonito/feio; justo/injusto.
Plãtão refere que o valor educativo das histórias exerce um fascínio sobre a mente das crianças e Betelheim afirma que estas têm uma forte influência e reconstroem as dimensões mais profundas do sentir e do pensar.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
domingo, 9 de agosto de 2009
Psicoterapia e Neurociências, um namoro difícil ou um casamento á vista?
A questão das neurociências da psicologia já se coloca á cerca de um século, Freud escreveu que muitas das doenças psicológicas que observara teriam no futuro uma melhor compreensão e tratamento com o evoluir das neurociências.
António Damásio ao ser confrontado com uma pergunta de uma jornalista, no sentido de saber como se podem alterar as conexões neuronais de determinada estrutura de personalidade, respondeu “fazendo psicoterapia!”.
Faz algum sentido começar por explicar o que cada técnica de captação de imagens pode dar.
A TAC - tomografia axial computorizada - permite obter imagens do cérebro através de raios X. A diferença de densidade dos tecidos autorizam a visualização das várias regiões cerebrais como nestas imagens tomadas de diferentes ângulos. A TAC permite detectar alterações anatómicas no cérebro tais como tumores, AVCs e outras anomalias.
A RM - ressonância magnética nuclear - é um sistema de neuro imagem anatómica não invasiva que oferece imagens cerebrais de alta resolução obtidas a partir da medida das ondas que emitem os átomos de hidrogénio quando são activadas por ondas de radiofrequência num determinado campo magnético.
A PET - tomografia por emissão de positrões - permite detectar a actividade cerebral determinando o fluxo de sangue, o qual contem átomos radioactivos que emitem positrões. Avalia a quantidade de actividade metabólica do tecido cerebral. Os pacientes são injectados com uma substância radioactiva a qual vai ajudar a produzir imagens das áreas cerebrais activas. Ou seja, esta técnica permite imagens tomográficas funcionais do cérebro em situação basal ou durante a realização de alguma actividade.
A IRMf - ressonância magnética funcional - é sensível às alterações do fluxo sanguíneo que percorre todo o cérebro e se altera a todo o instante conforme a actividade das células nervosas (neurónios), podendo-se detectar onde essa actividade está mais intensa. A técnica fundamenta-se na medição do oxigénio no sangue nas áreas mais activas do cérebro, gerando imagens cromáticas de alta resolução tendo aberto enormes expectativas na ampliação do conhecimento das funções cognitivas.
Embora seja uma técnica diferente, o EEG - electroencefalograma - permite o registo da actividade bioeléctrica de numerosos potenciais de acção que são recolhidos por eléctrodos aplicados na superfície do couro cabeludo. Uma aplicação do EEG é a técnica dos Mapa de Actividade Cerebral (MAEC ou BEAM em inglês, iniciais de Brain Electrical Activity Mapping) a qual serve para estudar as alterações de activação de qualquer das quatro ondas do EEG - delta, teta, alfa e beta - durante a execução de tarefas cognitivas. Mais recentemente a MEG (magnetoencefalografia) permite identificar com maior precisão a origem das ondas cerebrais.
Através das novas técnicas de imagiologia torna-se possível observar e interpretar imagens do cérebro em actividade de uma forma mais completa e eficiente. Gradualmente, os progressos técnicos da imagiologia cerebral poderão mostrar como o cérebro codifica informação complexa e não apenas onde se dá essa codificação.
Noutros post´s farei uma abordagem mais aprofundada de cada uma das técnicas e do que tem vindo a ser investigado na nossa área.
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