terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O problema da "vespertilidade"


Foi realizado uma investigação nos Estados Unidos que sugere que as pessoas que têm uma grande predisposição para se deitarem tarde e se levantarem igualmente tarde poderão sofrer do "distúrbio do sono atrasado". Segundo cientistas como Luciano Ribeiro Júnior, especialista em sono, este distúrbio pode ter suporte genético.

Sem ainda se ter percebido muito bem o peso que cada uma das influências bio-psico-sociais têm neste fenómeno, estima-se que cinco por cento da população sofra do transtorno da fase atrasada do sono em diferentes degraus e apenas uma pequena parcela se consiga adaptar aos horários de trabalho habitualmente diurnos da nossa sociedade.

Relativamente às consequências (ou causas...) desta perturbação, Luciano Júnior refere que, "para além da pressão exercida pelos pais, professores e, mais tarde, pelos colegas de trabalho, o vespertino sofre de problemas psiquiátricos com maior frequência: depressão, bipolaridade, hiperactividade ou défice de atenção. Além disso, a privação do sono profundo, quando sonhamos, faz com que a pessoa tenha maior susceptibilidade a vários problemas de saúde: no sistema nervoso, endócrino, renal, cardiovascular, imunológico, digestivo, além do comportamento sexual".

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Eficácia das Psicoterapias Dinâmicas



A crença de que as psicoterapias dinâmicas não têm uma veracidade científica suportada por estudos empíricos ainda persiste na nossa sociedade pondo em causa a eficácias das mesmas. No entanto, Jonathan Shedler, em "The Efficacy of Psychodynamic Psychoterapy", revela-nos o contrário e elucida-nos sobre a existência deste lado mais científico das psicoterapias dinâmicas e de como a sua eficácia pode surpreender os mais cépticos.

Deixo-vos o link para poderem ter acesso ao documento completo.
http://www.apa.org/news/press/releases/2010/01/psychodynamic-therapy.aspx

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Estilo de vinculação e desenvolvimento intra-uterino

Depois de Konrad Lorenz ter observado que os gansos recém-nascidos se ligam à primeira coisa que vêem mexer depois de sairem do ovo, seguindo-a (normalmente a mãe ganso) para todo o lado, um fenómeno com algumas parecensas foi também descrito em relação aos seres humanos. John Bowlby (1958) foi quem primeiro descreveu este processo, dando origem à cada vez mais em voga, Teoria da Vinculação.
A Vinculação ("Apego" ou "Attachment") expressa-se essencialmente por uma necessidade muito importante de formar um laço afectivo constante e seguro com a mãe (ou substituto maternal) logos nos primeiros meses de vida. O comportamento de Vinculação manifesta-se ainda, e de um modo mais geral, na regulação de um equilíbrio fundamental entre a necessidade de proximidade e protecção da mãe, e a necessidade de explorar o mundo exterior. Sendo um processo intrinsecamente interactivo e relacional, a especificidade de cada estilo de vinculação bebé-mãe vai depender simultaneamente das características de cada um dos dois interlocutores.
Resumidamente, encontraram-se principalmente 4 tipos de estilos de vinculação:
- Vinculação Segura: o bebé sente-se seguro e confiante na presença da mãe, sentindo-se também à vontade para explorar o meio ambiente

- Vinculação Insegura:

>Evitante: o bebé sente-se desamparado na ausência da mãe e a sua presença não a consola nem securiza inteiramente, tendendo a centrar-se em si próprio.

>Ambivalênte: o bebé só se sente bem na presença da mãe protestando aquando do reencontro por esta o ter deixado. Tem muito pouca vontade de explorar o mundo exterior.

>Desorganizado: bebés com um grande nível de perturbação e ansiedade, sentida frequentemente e um pouco independentemente da presença ou ausência da mãe.
Até há pouco tempo, pensava-se que estes estilos afectivos (baseados nos protocolos de observação de até então) eram aprendidos por volta do 10º mês de vida. Actualmente, Boris Cyrulnik (Neuropsiquiatra, Etólogo e Psicanalista) realizou uma experiência que pode pôr em causa o facto de que a organização do estilo de Vinculação só se adquire próximo do primeiro ano de vida.

Com a ajuda de ecografias, observou como fetos reagiam quando se induzia um ligeiro estado ansiogénico na mãe (era pedido que cantasse). Apesar das limitações óbvias desta experiência, foi possível discriminar 3 "perfis" comportamentais dos bebés em gestação: um em que os bebés se agitam esperneando e aumentando o ritmo cardíaco; outro em que o ritmo cardíaco também fica mais acelerado mas apenas levantam os braços; e um último em que não há, nem alteração dos batimentos cardíacos, nem movimento dos membros.


Segundo o autor, se esta experiência não prova a existência de estilos de Vinculação organizados em plena gestação, pelo menos sugére que no dia em que os bebés vêm ao mundo, têm já uma pequena preferência comportamental que pode influenciar e até determinar mais cedo do que se pensava, a organização de um estilo de Vinculação.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O campo das Neurociências e das terapias

As perturbações do funcionamento mental sempre constituiram pontos de convergência entre várias disciplinas e foram amplamente estudadas quer por neurocientistas quer por psicanalistas.
Com o trabalho de Alexander R. Luria desenvolveu-se dentro do campo da neurociência do comportamento, a neuropsicologia dinâmica, cujos princípios se aproximam aos da psicanálise por aceitar que as funções da fisiologia cerebral ocorrem na interacção dinâmica de diversas áreas espalhadas pelo cérebro, e não resultante de uma localização num centro. Será então possível unir uma modalidade de investigação que utiliza técnicas específicas e objectivas para aceder às alterações entre cognição, comportamento e actividade cerebral, com uma outra que procura aceder às estruturas psicológicas subjacentes da personalidade, motivação e emoção? Talvez a esta pergunta se possa responder com o trabalho de António Damásio que, nas palavras de Emílio Salgueiro*, iniciou uma clara aproximação da neuropsicologia em relação à psicanálise.

De facto este novo campo vem dar um lugar de destaque aos processos psíquicos inconscientes- alicerces do psiquismo consciente, e insiste no dinamismo entre estes, entre afecto e pensamento e entre corpo/mente e ambiente socio-cultural.

Tem em conta o enraizamento dos processos mentais inconscientes no próprio corpo e entre este e as suas emoções.


"Diálogos fecundos podem neste momento ser entabulados entre psicanalistas e neuropsicólogos". Emílio Salgueiro*

Portanto podemos pressagiar um casamento feliz entre neurociências e as diversas modalidades psicoterapeuticas

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SALGUEIRO, Emílio. O segundo erro de René Descartes: Diálogo e criatividade. Aná. Psicológica

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Psicoterapia e Neurociencias: o casamento que nao escondido demora a ser reconhecido

A Revolução Cognitiva deu-se nos anos 70! Foi a época do estudo das funções cerebrais que permitiu compreender melhor o funcionamento do nosso enigmático cérebro. A partir dos anos 90 partiu-se para novas "aventuras": mapear no cérebro as emoções ou mesmo a consciência. Estava assim refutada a ideia de que corpo e mente seriam entidades separadas. Situando a mente no cérebro, sendo o cérebro corpo, então chegou-se a corpo e mente unos. Parece ter sido este o momento do casamento (feliz) entre psicoterapia e neurociências, ou o momento em que o divulgaram.
Se a psicoterapia envolve alterações emocionais, cognitivas e comportamentais, tais alterações têm expressão cerebral. Quando em psicoterapia cognitiva se substituem pensamentos automáticos irracionais por pensamentos racionais, criando alterações emocionais, ocorreu uma nova aprendizagem. Esta nova aprendizagem deve-se à criação de uma nova rede neuronal ou alteração de uma já existente, o que tem uma expressão cerebral que pode ser observada utilizando técnicas de imagiologia refinadas como o PET scan, quando ocorrem em maior escala
Ora o casamento, embora demore a ser reconhecido, é efectivo. Assim, o desafio que parece agora ter de se superar é o desenvovimento do seu "filho". Surgem já algumas investigações que, através do estudo neuropsicológico e utilizando técnicas de imagiologia, verificam as activações cerebrais e alterações que ocorrem ao longo da psicoterapia. Se a Psicoterapia e a Neuropsicologia (ou Neurociências) continuarem o trabalho conjunto poderemos chegar ao momento em que, partindo de uma avaliação neuropsicológica, possamos planear uma intervenção psicoterapêutica tendo presentes os efeitos que o objectivo psicoterapeutico terá dentro de nós, ou seja no nosso cérebro. Será um trabalho bidireccional! Não significa que se torne a psicoterapia muito técnicista mas sim que se compreendam melhor os seus efeitos, tornando-a ainda mais eficaz.
Que o fim desta história seja "e viveram felizes para sempre...".

Histórias de vida

Este mês lançou-se um tema sobre a importância das histórias, dos contos e da narrativa na estruturação do psiquismo. Falou-se sobretudo nas crianças e nos contos de fadas, mas poder-se-ia ter falado das fábulas, das lendas e também dos mitos que desempenham igual importância não só na infância mas ao longo de toda a vida.

As histórias, reais ou ficcionadas só têm sentido se forem interpretadas à luz do mundo simbólico que constitui a cultura humana e não é novidade para ninguém que a condição humana é o reflexo da cultura e da história, para além dos recursos físicos e psicológicos.

Quem nunca leu uma biografia? Habitualmente estão repletas de factores históricos e culturais. E o método biográfico ocorre tanto na literatura como nas ciências sociais. As histórias de vida (expressão mais comum para designar o método biográfico nas ciências sociais) são utilizadas para estudar os estágios de desenvolvimento e as transições que ocorrem ao longo de uma vida. Para além da investigação este método pode também ser utilizado com uma intencionalidade terapêutica. A utilização metodológica das histórias de vida permite a transformação do sujeito empírico em sujeito analítico e revela a necessidade de demonstrar a forma como o sujeito analisa e atribui sentido ao seu quotidiano e às decisões que toma.

Para Bruner (1990)* a principal tarefa do eu é mesmo a construção de uma história de vida (construção longitudinal do eu) ajustada às circunstâncias actuais do sujeito no sentido de uma coerência e adaptação externa e interna, desenvolvendo um sentido de identidade e continuidade.


* Bruner, J. (1990). Actos de significado. Lisboa: Edições 70.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A Morte do Pato Donald - (Avô, conta-me uma história!)


A propósito deste tema lembrei-me de um artigo que li há algum tempo na revista Pública do Expresso do Dr. Daniel Sampaio. O artigo iniciava com uma pequena resenha a outro artigo "Os 25 mitos da Pediatria" no qual também se podia ler algumas inovações para pais e professores, mas Daniel Sampaio quis acrescentar a profunda mudança ocorrida nestes últimos anos e intitula o seu artigo como: A MORTE DO PATO DONALD

Depois de alguma procura consegui encontrar o artigo e transcrevo aqui alguns items que me parecem fulcrais para o assunto em questão.

"O quotidiano da criança mudou. Hoje vão cedo para a creche e não brincam na rua, o peluche caiu em desuso e o Pato Donald morreu. Um menino dos nossos dias que aprendeu a ler não se entretém com uma revista de quadradinhos do Tio Patinhas, como acontecia com os seus pais, até porque só com dificuldade a encontrará nas bancas. Mickey e Minnie, Donald e Margarida, Pateta e Clarabela são "casais" do passado, seres assexuados que só tinham sobrinhos (quem seriam os pais) e se entretinham com estórias que hoje nos parecem inverosímeis. O mundo de hoje é outro: telemóvel e computador, Game-Boy e Play-Station são utilizados com grande à-vontade por crianças pequenas...Tudo está diferente...Morreu o Pato Donald, viva o Pokémon!
A verdade é que nunca, como agora, se tornou tão importante o papel dos adultos junto dos mais novos: com tanta informação rápida, com as imagens a entrarem nas nossas casas deixando dúvidas sobre o que é real e virtual, com o mundo tão imprevisível e por vezes perigoso, apalavra dos familiares é cada vez mais relevante. Pela simples razão que é única e insubstituível: jamais um jogo eléctrónico ou uma pesquisa na internet substituirá a afectividade da narrativa do avô ou a palavra afectuosa de um pai...As crianças precisam de estimular a imaginação e de encontrar segurança na sua relação com os adultos mais importantes, os seus familiares. As famílias já não são três gerações à volta de uma lareira, mas continuam a ser o espaço emocional mais importante para os mais novos."

Ora na relação que se estabelece entre criança-adulto-livro aparecem laços afectivos muito fortes e a cumplicidade da leitura permite-nos viver a experiência de compartilhar os sentimentos e as emoções que os livros nos proporcionam.

A emoção age principalmente na segurança das crianças, base de todo o desenvolvimento e é preciso dar e criar oportunidades para a expressão das emoções e sentimentos, para que a criança os reconheça e elabora, ora os livros, as narrativas, proporcionam tudo isto, já que são poderosos clarificadores de significados, permitem organizar o real e conceitos como bem/mal; bonito/feio; justo/injusto.

Plãtão refere que o valor educativo das histórias exerce um fascínio sobre a mente das crianças e Betelheim afirma que estas têm uma forte influência e reconstroem as dimensões mais profundas do sentir e do pensar.